A história de Paraibuna é marcada por grandes transformações econômicas e sociais, que se intensificaram com a construção da represa da CESP. O desalojamento da população rural e o reassentamento resultaram em mudanças significativas na economia, mas também trouxeram consigo uma perda de identidade cultural para muitos habitantes.
Por Oswaldo C. Macedo
Resumo
O município de Paraibuna, situado no Alto Paraíba, na escarpa da Serra do Mar, tem uma rica história que remonta ao período colonial. Ao longo dos séculos, a cidade experimentou diversas mudanças em sua economia e estrutura social, com destaque para a construção da represa da Companhia Energética de São Paulo (CESP), na década de 1970. Este evento, embora projetado para ser um grande impulsionador da geração de energia, não cumpriu sua função inicial, mas passou a atuar como reguladora das enchentes do Rio Paraíba e responsável pelo abastecimento de água do sistema Guandu, no Rio de Janeiro. Essa transformação afetou profundamente a economia local, com o desalojamento de famílias rurais e a perda da produção leiteira. No entanto, figuras como João Rural, um defensor incansável da preservação da identidade cultural de Paraibuna, se destacam por sua luta para manter viva a memória histórica da cidade. Este artigo visa analisar as consequências da construção da represa, o impacto no modo de vida rural e a resistência cultural promovida por João Rural e outros moradores que preservam as tradições da cidade.
Palavras-chave: Paraibuna, represa da CESP, João Rural, identidade cultural, transformação econômica, reassentamento.
1. Introdução
Localizada no Alto Paraíba, Paraibuna se caracteriza por uma rica trajetória histórica, marcada pelo ciclo do café e pela produção de leite no início do século XX. A cidade, tradicionalmente voltada para a agricultura, sofreu uma mudança econômica significativa com a construção da represa da Companhia Energética de São Paulo (CESP), em meados da década de 1970. Embora a represa tenha sido projetada para impulsionar a geração de energia, ela se tornou, na prática, um instrumento de controle das enchentes do Rio Paraíba e para o abastecimento do sistema Guandu, no Rio de Janeiro. Essa mudança impactou profundamente a economia rural da cidade, com o deslocamento de muitas famílias e a perda de parte de sua vocação agrícola. Contudo, personagens como João Rural, um defensor das tradições culturais locais, se destacam ao lutar pela preservação da identidade de Paraibuna, resistindo à homogeneização cultural e às mudanças sociais.
2. A formação de Paraibuna e o ciclo do café
A história de Paraibuna remonta ao período colonial, quando o município se estabeleceu como um ponto de passagem importante para os tropeiros que percorriam o Caminho do Ouro. Com o início do Ciclo do Café em 1835, a cidade se transformou em um grande centro produtor de café, com 34 fazendas e 87 sítios de cultivo diversificado. A economia local foi estruturada em torno do cultivo de café, que gerou riqueza e atraiu grande número de trabalhadores para a região.
Já no início do século XX, Paraibuna passou a se caracterizar pela produção leiteira, com a chegada de mineiros e a adaptação da cidade para essa nova atividade econômica. A cidade se tornou um dos maiores produtores de leite do estado, destacando-se economicamente até a década de 1970, quando a represa da CESP foi construída.
3. A construção da represa da CESP e os impactos econômicos e sociais
A construção da represa de Paraibuna/Paraitinga, promovida pela CESP, foi uma das principais intervenções no município. Embora inicialmente planejada para ser uma grande geradora de energia, a represa acabou assumindo um papel diferente, funcionando como reguladora das enchentes do Rio Paraíba e fornecendo água para o sistema Guandu, responsável pelo abastecimento de água do Rio de Janeiro. A represa teve um impacto econômico negativo para a população local, especialmente no que se refere à perda das terras agricultáveis e à decadência da produção leiteira, que foi uma das principais fontes de sustento da cidade.
O projeto de construção da represa levou ao desalojamento de milhares de pessoas que viviam no campo e que tiveram suas propriedades submersas pelas águas do reservatório. Essas famílias foram reassentadas em novas áreas, mas o processo de adaptação não foi fácil. O deslocamento forçado e o abandono de suas atividades rurais causaram um empobrecimento de boa parte da população, que se viu sem alternativas viáveis de trabalho e com dificuldades para se ajustar ao novo modelo econômico urbano que estava se instaurando na cidade.
4. João Rural: A luta pela identidade cultural de Paraibuna
No entanto, o processo de mudança não foi aceito passivamente por todos. João Rural, um dos mais emblemáticos moradores de Paraibuna, tornou-se um símbolo da resistência cultural local.
Nascido e criado na cidade, João sempre foi um defensor ardente das tradições e da memória cultural do município. Ele dedicou grande parte de sua vida a preservar as manifestações culturais que marcaram o cotidiano dos moradores, como as Folias de Reis, os Moçambiques e as músicas caipiras. A paixão de João Rural pela cultura local o levou a se envolver ativamente na luta pela preservação das festas tradicionais e pela valorização dos pratos típicos, como o fogado, que são ainda servidos nas feiras e restaurantes da cidade.
Além de sua atuação cultural, João Rural também se envolveu em questões políticas e sociais, buscando garantir que os reassentados da represa tivessem acesso à terra e a condições de vida dignas. Sua luta foi fundamental para sensibilizar a comunidade sobre a importância da memória cultural e da identidade de Paraibuna, num momento em que muitas das antigas práticas rurais estavam sendo perdidas.
5. O impacto da represa na identidade cultural e o empobrecimento social
O desalojamento das famílias e a subsequente mudança de economia tiveram um impacto direto na identidade cultural de Paraibuna. Com a perda das atividades rurais e o empobrecimento de muitas famílias, especialmente aquelas que foram realocadas para bairros afastados, como São Guido, o município experimentou uma transformação social que diluiu a conexão com o campo e com suas tradições. A produção leiteira diminuiu consideravelmente, e a cidade se viu cada vez mais dependente de outros setores da economia, como o comércio e os serviços.
A perda de terras e de práticas culturais ligadas ao meio rural gerou uma sensação de vazio cultural para muitos moradores. Contudo, a persistência de figuras como João Rural e de outros defensores da cultura local foi fundamental para resistir à erosão das tradições. O Mercado Municipal de Paraibuna, por exemplo, continua sendo um ponto de encontro para a gastronomia local, onde o fogado e outros pratos tradicionais são servidos, mantendo viva a memória histórica da cidade.
6. Conclusão
A história de Paraibuna é marcada por grandes transformações econômicas e sociais, que se intensificaram com a construção da represa da CESP. O desalojamento da população rural e o reassentamento resultaram em mudanças significativas na economia, mas também trouxeram consigo uma perda de identidade cultural para muitos habitantes. No entanto, figuras como João Rural desempenharam um papel fundamental na preservação das tradições culturais da cidade, resistindo ao processo de homogeneização e ao empobrecimento social. Embora a represa tenha mudado o perfil econômico de Paraibuna, ela não conseguiu apagar a memória cultural da cidade, que continua a ser cultivada e vivenciada pela população. A luta de João Rural simboliza a resistência da cidade em manter suas raízes e sua identidade, resistindo às mudanças impostas pela modernização.
Bibliografia
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