Silveiras é um dos municípios mais importantes na história do tropeirismo. A família Silveira, da qual herdou o nome, instalou um rancho de tropas em suas terras por volta de 1800, e a ele outros ranchos vieram se juntar. Os bairros denominados Bom Jesus e Macacos surgiram antes mesmo de Silveiras, também em função dos tropeiros, durante o ciclo do ouro.
No início do século XIX, o desenvolvimento da localidade acelerou-se com o ciclo do café, que permitiu o surgimento, como parte do município de Lorena, da Freguesia dos Silveiras; essa era a definição da época, caracterizando a implantação de Paróquias, no caso, em homenagem a N. Sra. da Conceição de Silveiras. Em 1842, a freguesia passou à Vila por solicitação dos próprios silveirenses, que asseguravam as condições de independência e vida autônoma para a comunidade. Mas a implantação efetiva da nova condição só ocorreria em 7 de setembro de 1844, pois esses dois anos foram dramáticos para a comunidade. O município tornou-se palco de combates sangrentos da Revolução Liberal. As tropas do Barão de Caxias deixaram mortos 56 chefes de família em 12 de julho de 1842. As trincheiras, que até hoje testemunham o triste episódio, foram reabertas em 1932 durante a Revolução Constitucionalista, fatos que revelam o marcante civismo dos silveirenses.
Silveiras chegou à condição de cidade em 1864 e tornou-se comarca em 1888. Então, as Minas Gerais se enfraqueceram, o café passou a ser cultivado no oeste paulista, a escravidão foi abolida, a república proclamada e a estrada de ferro construída não passou pelo município, encerrando uma era de progresso.
A população da cidade foi drasticamente reduzida, Silveiras, que foi palco vivo da história da região, agora é palco da preservação da história, especialmente do tropeirismo. Recebe turistas dos setores de cultura, história, ecologia, religião, gastronomia e artes populares.
Durante o ciclo do café no Vale Histórico, Silveiras foi uma das menores produtoras do grão. Por outro lado, a cidade ficou bem no cruzamento dos caminhos que vinham do Litoral Norte e iam para Minas Gerais e o que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro. Por isso mesmo, muitos negociantes se dirigiram para o local, buscando atender os passantes. Muitos ranchos de tropa foram montados, tanto que a cidade nasceu a partir de um, o Rancho dos Silveiras.
A cidade fervilhou por pelo menos cem anos, chegando a ter mais de 20 mil habitantes. Politicamente, enfrentou os mandatários de São Paulo, apoiando a Revolução Liberal, em 1842. Com o declínio do café e a construção da Rodovia Presidente Dutra a cidade ficou parada no tempo.
A população foi drasticamente reduzida, e um novo caminho começou a ser traçado apenas por volta de 1978, com o movimento
comunitário denominado Silveirarte, promovendo feiras de artesanato e a valorização do patrimônio cultural e ambiental do município. Silveiras, que foi palco vivo da história da região, agora é palco da preservação da história, especialmente do tropeirismo.
Recebe turistas dos setores de cultura, história, ecologia, religião, gastronomia e artes populares.
Festa- As tropas cargueiras que dominavam as ruas de Silveiras só têm um motivo para aparecer. Agora, somente no desfile da Festa do Tropeiro, a população toma contato com esse costume. Mas são poucos animais, sendo a maioria de cavalos, desde o mais simples pangaré até os animais de raça. O desfile atrai também alguns carros de boi, que marcam presença com seu cantar.
Mas na Praça do Tropeiro a figura deste herói tem estátua de homenagem. Todo último domingo de agosto, a cidade recebe milhares de visitantes para lembrar o ciclo do tropeirismo.
A festa tradicional realizada todos os anos, no último domingo de agosto, ocupa pelo menos 20 pessoas para preparar o almoço.
Seu Dito é quem comanda a cozinha, onde o feijão tropeiro leva 2 mil quilos de toucinho, 500 quilos de batata, 350 quilos de carne, 100 quilos de feijão, 200 quilos de arroz, 100 quilos de courinho de porco, 10 quilos de tempero, 20 quilos de farinha, e, pelo menos, 50 litros de cachaça para abrir o apetite.
A preparação de cerca de 2 mil quilos de toucinho, pra ser transformado em torresminho, principal atração da festa, começa uma semana antes. O toucinho ideal é o da barriga do porco, por ser menos gorduroso e mais fino. Uma equipe de vários homens limpam o toucinho e lanham, isto é, cortam sem retirar do couro. Depois, é salgado e colocado ao sol, onde fica por dois ou três dias, para que água escorra bem.
O próximo passo é cortar todas as peças em pedaços pequenos e colocar para descansar em grandes coxos. No dia anterior à festa, é feita uma boa lavada com água fria para retirar o excesso de sal do toucinho. Depois vai pra panela, onde é frito em fogo alto até dourar e pururucar. Para isso, o segredo é esparramar um pouco de água fria no torresmo, ainda na panela. “Dar um susto”, como eles dizem. O interessante é que o pessoal consegue dar o mesmo ponto de pururuca em todo o torresmo, tanta é a experiência que tem no trabalho.
Criada em função dos tropeiros, Silveiras conheceu a decadência econômica a partir da utilização da Via Dutra e da estrada de ferro para transporte de produção. O artesanato chegou como uma alternativa ao trabalho no campo e deu novo fôlego à cidade, cuja população ia partindo aos poucos em busca da sobrevivência. Nesse processo, alguns artesãos, quase esquecidos nessa história tão recente, tiveram papel fundamental.
João Camillo Pena é um deles. Vindo de São Paulo, ele visitou Silveiras pela primeira vez aos 15 anos, gostou da tranquilidade do local e decidiu virar artesão. Em 1976, chegou para ficar. Hospedou-se em um hotel, onde fixou residência e, ajudado pelo professor de Português e ex-vereador Maciel, conseguiu da Prefeitura um prédio emprestado para morar e desenvolver sua arte; o macramê, com fios de sisal e algodão. Fazia panôs e porta-vasos de corda, objetos em moda na década de 70. Alguns artesãos da cidade já trabalhavam com madeira, taquara, taboa e faziam crochê.
Camillo organizou então um curso de artesanato, com o objetivo de aumentar a produção, que ele levava para vender em São Paulo. Sem ter noção exata do que fazia, ele deu início ao primeiro “arranjo produtivo”, sistema atualmente incentivado e disseminado por entidades como o Sebrae.
O artesão fez parte do grupo que fundou a Sociedade Amigos de Silveiras, criada com o objetivo de revitalizar a cidade. Foi essa instituição que promoveu a Silveirarte, uma feira de artesanato realizada nos finais de semana durante algum tempo, que contribuiu
para motivar os moradores a se dedicarem à atividade.
Em 1981, na busca por novos espaços para vender o artesanato produzido em Silveiras, Camillo participou de uma feira em São Paulo. Nessa ocasião, cedeu espaço a um artesão de São Sebastião para que vendesse suas peças. Meses depois, compradores surpreenderam Camillo ao procurarem pássaros de madeira em Silveiras. Só então ele descobriu o que o artesão havia vendido. Para atender os lojistas, Camillo foi buscar os pássaros no litoral, e as peças se tornaram o carro chefe do artesanato de Silveiras. Em suas andanças, ele aprendeu novas técnicas de pintura e até de mecanização da produção de objetos de madeira.
Incentivou artesãos como Dito Paulino, do Bairro do Fundão, e a família Carvalho, do Bairro da Estiva, a fazerem pássaros e utilitários como gamelas com cabeça de pato, que se tornaram populares.
No final de 1982, uma festa foi organizada em Brasília para receber o então vice-presidente dos Estados Unidos, George Bush (pai). Pássaros produzidos em Silveiras foram usados na decoração, e a primeira dama americana se encantou com eles, a ponto de solicitar exemplares para levar com ela. Na ocasião, Camillo conheceu o ornitólogo e taxidermista José Idazi, que disponibilizou sua coleção de pássaros da fauna brasileira para pesquisa. Esse fato proporcionou um salto de qualidade nas peças produzidas, pois, até então, a pesquisa era feita apenas em livros. O acesso dos artesãos a modelos reais, empalhados, permitiu o aprimoramento da arte. Mais tarde, o próprio Camillo enfrentou a concorrência criada pela disseminação do artesanato na cidade e, com o apoio do Sebrae, profissionalizou sua empresa, participou de feira no exterior e se reposicionou no mercado produzindo brinquedos pedagógicos em madeira.
A necessidade de se profissionalizar foi sinal dos tempos, acenando com uma nova era para municípios como Silveiras. Camillo acredita que o papel do artesanato nessa história foi servir de ponte entre o vazio deixado pela decadência da atividade agropecuária
e o turismo e que é um importante produto do turismo local.
ASAEPA - Associação Silveirense de Artesãos e Empresas de Artesanato. Tem loja para exposição e vendas dos trabalhos de 11 afiliados. Das 9h às 16h. Aos domingos das 11h às 17h. Pça. Padre Antônio Pereira de Azevedo-
Atelier Entre no Paraíso - Comandado pelos artesãos Camillo e Denise. Produz pássaros e destaca-se por ser o único da cidade que produz jogos educativos e quebra-cabeças com motivos da flora e fauna. Estrada dos Tropeiros, km 218, bem no Portal da cidade.
Dito Paulino, o Benedito Silvestre de Andrade, aprendeu a trabalhar a madeira com o pai, um lavrador habilidoso no artesanato de peças como o pilão. Incentivado por João Camilo Pena, ele dedicou-se à produção de pássaros de madeira e outros utilitários, até que deixou o trabalho na roça para se dedicar a essa atividade em tempo integral.