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O peixe da santa pode ser o surubim


O culinarista João Rural e o biólogo Danilo Caneppelli, uniram seus conhecimentos e pesquisas em cima de uma nova visão sobre os peixes servidos a comitiva do Conde de Assumar no dia do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
O culinarista é taxativo em afirmar que “só pode ter sido essa espécie de peixe, que era o mais abundante e maior nas águas do rio, naquela época.”
A análise foi publicada no recente livro “No Fundo do Tacho”, de João Rural, onde ele coloca ainda mais assuntos sobre a formação da comida caipira no Vale do Paraíba, no princípio do Brasil português;
O ESTUDO
O atual lendário Rio Paraíba do Sul viveu centenas de anos com outro nome. Foi só os invasores chegarem e a cobiça indígena se instalou na região. Tribos se guerrearam e aniquilaram os naturais da região do Vale do Paraíba. Silvícolas chamavam esse rio de o Rio do Sorobis, devido ao peixe que aqui tinha em profusão: o Sorobis, hoje conhecido como Surubim do Paraíba e que está em extinção.
O rio era assim chamado devido a esse peixe ser o maior do lugar, chegando a pesar até 15 quilos, e, sendo peixe de couro, era mais fácil comer assado na trempe, além de render muito mais.
Em 1601, o naturalista Guilherme Glimmer, em sua passagem pelo Vale do Paraíba, mencionou que o rio se chamava Sorobis, devido ao peixe existente em suas águas.
Nos últimos dez anos, pesquisadores da CESP, Centrais Elétricas de São Paulo, vêm pesquisando o peixe na Estação de Piscicultura de Paraibuna. O objetivo é reproduzir a espécie para soltura nos rios Paraíba do Sul, Paraibuna e Paraitinga.
O que o surubim teve a ver com Nossa Senhora Aparecida?
Em meados de 1717, Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal, futuro Conde de Assumar e governador das províncias de São Paulo e Minas Gerais, fez uma viagem de Lisboa à Vila de Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana). No caminho, estava a Vila de Guaratinguetá, que depois foi fatiada em várias cidades, entre elas Aparecida do Norte.
Pois bem, quando chegou a notícia, para os lados de Aparecida, de que o Conde de Assumar passaria ali, três pescadores – Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves – foram convocados a sair em busca de peixes no Rio Paraíba para um banquete que seria oferecido ao conde.
Passaram horas e horas pescando, mas peixe que é bom não aparecia. Até que João Alves lançou a rede e pescou a imagem de Nossa Senhora da Conceição… Sem sua cabeça. Jogou novamente a rede no rio e apanhou a parte que faltava da santa. A partir de então, como um milagre, quase que não tinha mais lugar na rede para a quantidade de peixes que se enroscava nela.
Ao conde foi oferecido, enfim, um banquete. O peixe? Ah, sim, reza a lenda que o peixe era o surubim. A santa? Em 1929, Nossa Senhora Aparecida foi proclamada “Padroeira do Brasil” por determinação do Papa Pio XI.
A viagem do Conde de Assumar foi registrada em um diário, publicado no livro Um Comerciante do Século XVIII, de Maria José Tavora e Rubem Queiroz Cobra.
 “(…) Tivemos a fortuna de tirar um pouco de peixe, que comemos cozido com água, sem azeite nem vinagre, porque não havia” – numa praia, nas imediações de Guaratinguetá.
O PEIXE
Segundo o biólogo Danilo Caneppelli, da CESP, o denominado cientificamente Steindachneridion parahybae é um bagre que pertence à ordem dos Siluriformes, família Pimelodidae. Tem corpo achatado, com o dorso escuro marcado por manchas pequenas e alongadas, seus olhos são pequenos devido à predominância de atividade noturna e sua percepção do ambiente é auxiliada pela presença de barbilhões Endêmico da bacia do rio Paraíba do Sul e com biologia pouco conhecida, sua ocorrência natural é descrita normalmente associada a poções não muito profundos e a áreas intermediárias como os remansos do domínio das ilhas fluviais e os encontros de rios, porém, recentes capturas foram realizadas em meio à corredeiras, remansos profundos acima de cachoeiras e no período noturno em regiões mais rasas do rio, provavelmente quando saem em busca de alimento.