Esta matéria foi escrita por João Rural em Memórias de Paraibuna – Zé Borracha – Caderno culturais 2.
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Betinho Camargo, quando vereador em Paraibuna, foi um caso atípico. Ás vezes, distraído, vinha à sessão de câmara em dia errado. Ás vezes vinha um dia antes, e, claro, esperava até a sessão. Mas quando vinha depois, sempre tinha desculpas, era a ferradura do cavalo que tinha soltado e atrasado sua viagem ou em alguns casos chegava a culpar o horário de verão, pois ao invés de atrasar ele tinha adiantado o relógio – diferença do fuso horário ou o horário confuso tinha provocado aquela situação.
O tempo passava e já estava na metade de seu mandato. Não tinha apresentado nenhum projeto. Já tinha gente apostando, ou participando de bolão, cada um dando seu palpite se até o final do mandato ele iria ou não enviar um projeto à Câmara.
Certa vez, teve uma sessão extraordinária que varou a madrugada, e, dias depois, reunido com amigos, eu fiz o seguinte comentário: A vida é cheia de surpresas, pois na última sessão de Câmara o Betinho Camargo falou quase duas horas. Com isso quase fui agredido pela turma, achavam que era uma heresia. Se o Betinho Camargo, em mais de metade do mandato, não tinha apresentado nenhum projeto, e também não falava quase nada, como que teria falado quase duas horas? De posse da fita gravada da tal sessão, e cercado pelos apostadores e curiosos, coloquei o toca-fitas em funcionamento. Quando alguém na sessão de Câmera perguntou: Betinho, que horas são? Ele, tranqüilo, olha para o relógio e responde: Quase duas horas. No momento, levei safanões e cascudos, mas o importante é que provei o que tinha apostado e ainda ganhei uma graninha, graças ao amigo Betinho Camargo.
Tempos depois, um rebuliço na cidade. O povo não acreditava no que ouvia, pois o Betinho Camargo anunciava para quem quisesse ouvir, que na próxima sessão iria apresentar um projeto, que com certeza iria revolucionar Paraibuna. No dia da sessão, praticamente todo o povo estava lá para assistir.
Chegou o momento tão esperado. Betinho Camargo levantou-se, estava nervoso, tremia igual a uma Toyota em ponto morto. Ele ainda estava começando a sua brilhante carreira política. De repente, tomou coragem e lascou o tal projeto: Construir em Paraibuna uma fonte. Foi uma decepção geral, pois todos esperavam um projeto maluco, espalhafatoso, o que seria normal. Colocado em votação, alguns vereadores foram contra ao tal projeto, alegando que uma fonte não traria nenhum benefício e somente despesas. Betinho defendendo o projeto dizia: O que nós paraibunenses faremos então com o dinheiro do “imposto de renda”? Eu na minha santa ignorância fiquei pensando que o dinheiro do imposto de renda pudesse ser gasto em fontes ou parques, talvez. Mas a discussão continuou até que o Betinho, já nervoso, falou: Vocês vejam bem, na declaração de imposto de renda existem no formulário alguns itens como “imposto retido na fonte”, “imposto pago na fonte”, e como não temos fonte, temos que ir até São José dos Campos para fazermos a nossa declaração! Os vereadores, pouco confusos, acabaram aprovando em respeito à atitude do vereador Betinho Camargo, que finalmente havia apresentado um projeto.
A fonte foi construída perto da bomba do Agenor, e como vocês sabem, ficou muito tempo sem funcionar. Pelo que fiquei sabendo, o projeto foi aprovado, mas com a condição de não encherem de água, com receio que alguém menos avisado, ou o próprio Betinho, ao declarar ou pagar o imposto na fonte, acabasse se afogando. Hoje, com um pouco mais de esclarecimento, já foi possível reformá-la e, quando funciona, é uma linda atração de nossa cidade.